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SPORTING VINTAGE: 2007.11

SPORTING VINTAGE

ofensiva1906@gmail.com

25.11.07

Carlos Gomes

“(...)Com a idade que tenho, sou do tempo dos que despertaram para o prazer da bola há mais de meio século. Comecei a ir aos campos de futebol - quando ainda não havia estádios como os que temos hoje - no princípio dos anos 50.
E lembro-me de ter escrito no Record, quando nele publicava crónicas semanais, já lá vão sete anos, que nunca me esqueceria do Carlos Gomes, um guarda-redes "fenomenal", "tão bom como o Banks ou o Yachine".
Nunca o conheci pessoalmente, mas sei que ele ficou muito "sensibilizado" e teve a modéstia de confessar, a um amigo meu, que eu tinha "exagerado". Não sei se terei exagerado - julgo que não -, mas a verdade é que, ainda hoje, as mais extraordinárias defesas que me vêm à memória foram feitas pelo português Carlos Gomes, pelo inglês Gordon Banks e pelo russo Lev Yachine. Seria capaz de descrevê-las em pormenor, mas o espaço desta crónica não dá para tanto.Quero apenas recordar um Sporting-Benfica, já no Estádio José Alvalade (não este, mas o anterior), em que a equipa do meu clube de sempre ganhou por 1--0 (golo do Hugo, se não estou em erro), mas em que o verdadeiro vencedor do jogo foi o Carlos Gomes, com uma exibição "do
outro mundo". Lembro-me bem do José Águas - outro magnífico jogador - isolado na grande área, a fazer um remate perfeito para uma defesa "impossível" do Carlos Gomes. Quando estava "nos seus dias" - e a vida de que ele tanto gostava fora dos relvados não o inibia -, o Carlos Gomes era, para mim, o melhor guarda-redes do mundo.Vi jogar outros grandes guarda-redes portugueses - como o Azevedo, já no final da carreira, o Costa Pereira, o Vítor Damas ou o Bento. Mas o Carlos Gomes continuará a ser, sobretudo agora que já não é deste mundo, o meu guarda-redes de sempre. Assim como outros grandes artistas da bola - que contribuíram decisivamente para espevitar e alimentar o meu prazer de jogar (enquanto pude) e de ver jogar (na bancada ou no sofá) - vão continuar a ser, para mim, os melhores jogadores portugueses de sempre. Ainda hoje não me conformo com o facto de não ter dedicado crónicas de louvor e homenagem ao Travassos e ao Germano, quando se foram embora desta vida. Porque também eles foram grandes e fazem parte da memória de um miúdo que despertou para o prazer do futebol quando só tinha cinco anos. Associo-os, hoje, a esta homenagem ao Carlos Gomes. Não merecem apenas o "minuto de silêncio" do costume. Merecem pausa nas análises à última jornada. E merecem, sobretudo, os seus lugares na história, porque foram eles os protagonistas de muitas das melhores jornadas do futebol português.” Alfredo Barroso in Diário de Notícias/2005